O meu, o seu, o nosso Tacacá!


Uma gaúcha chamada Vera Mogilka que esteve em Belém em 1964,escreveu esta ODE ao Tacacá que foi publicado no jornal "A Província do Pará" em 16 de fevereiro do mesmo ano e me foi enviada por minha prima M. Célia que pinçou-a com sua sensibilidade literária, assim, como tive o prazer de contar com a foto(linda)de Miguel Chikaoka, um dos melhores do Brasil. Separei alguns trechos da Crônica ,pois embora bela, é longa:
"O tacacá toma-se? bebe-se? sorve-se? saboreia-se?Não, o Tacacá deseja-se de repente, como se deseja uma mulher,como se deseja retornar ao amor da adolescência. O Tacacá possui o toque agudo da saudade. A memória de seu sabor salgado e ardente assalta-nos sem aviso, em pleno dia, em determinadas horas de distração. Naquele momento involuntário de repouso quando, por fim ao cair da tarde sobre o rio, respiramos. Certo e pequeno instante, dezenas de sugestões cruzam a mente. Todos os atos gratuitos e cheios de graça da vida: uma criança correndo na grama, braços em repouso e um regaço, mãe amamentando o filho, avião acendendo e apagando as luzes na bruma da noite, navio singrando a baía, luar úmido sobre igarapés-vontade de tomar tacacá. Desejo de Tacacá. É preciso que haja um banco. Tacacá toma-se sentado para que o corpo repouse e possa se entregar completamente ao prazer de saborea-lo.
Depois, como estamos cansados e queremos esquecer,esperamos.Uma paciência longa e calma, até que a dona do tacacá termine por prepara-lo, é preciso que haja sal e pimenta de cheiro. É preciso saber tomar o tacacá. Aos primeiros sorvos integralmente seu calor, sua salinidade, seu gosto de mar quente, de arbusto e molusco que os lábios experimentam fugidiamente. Chegados ao fim do Tacacá, é preciso que o mesmo ainda se conserve morno, assim como o fim de um amor. Jamais frio. Agora o mais importante: jamais repetir o Tacacá na mesma noite, é preciso permitir-se um resto de fome, um resto de desejo para o dia seguinte,um resto de tristeza instransferível quando então, novamente sentiremos na ponta da língua a subtaneidade acre do tucupí."

Cupu, Cupuaçu



Na Amazônia, temos hábito de comer quase tudo com farinha. Aliás a mandioca da qual ela é feita, é a base da alimentação nossa de cada dia e sendo assim, minha tia e madrinha come até pupunha com a dita cuja!e não pensem que ela é índia ou negra, ela é branquinha como leite..rs!E não adianta se espantar, se você for à Belém,mais cedo ou mais tarde voce vai fazer o mesmo.Então, eu adolescente, costumava tomar até suco de cupuaçú com farinha, é bom demais! Naquela altura faziamos o suco com os caroços de cupú chupados até não sobrar um pedacinho de polpa.Há poucos anos atrás o Brasil teve um sério 'entrevero' com o Japão porque eles tentaram patentear nossa fruta num ato expli cíto de Bio-Pirataria,imagina a indignação que isto causou, felizmente ganhamos na justiça. Hoje em dia a fruta já é comercializada em quase em todo o Brasil. Um chef frances disse que não há combinação mais perfeita do que doce de cupuaçú com chocolate. A fruta com seu cheiro doce forte impregna qualquer alimento da sua geladeira. Ele tem que vir congelado e permanecer assim até ser usado em mousses, geleia e muito mais que sua imaginação permitir.E como ele vem em forma de polpa, as pessoas não conhecem o formato da fruta, então um poeta delicadamente a meu pedido foi ao Ver-o-Pêso registrar sua imagem, Valeu M. Quinan! E saibam quantos lerem este texto que o cupú tem cerca de 25 centímetros e chega a pesar um quilo! sua árvore tem 15 metros de altura e tem em sua composição pectina (substância que atua sobre o mau colesterol)ou seja é um tesouro regional e para uma amiga, leitora assídua do Blog vai esta postagem.Beijocas Márcia...e tem mais, em forma de caipirinha é uma maravilha!!!Tin-Tin...

Açaí sempre Açaí



Vocês vão dizer: de novo a Fátima falando de Açaí!!! eu tava quietinha aqui, até que minha prima me enviou uma crônica de uma jornalista paraense que trabalhou comigo na Tv Liberal, falando do seu ritual pessoal para cometer o que ela chamou de o "Crime Perfeito", olha parecia que ela estava me descrevendo tal a semelhança dos preparativos dela para tomar açaí..rs..a crônica muito bem escrita, descreve com minúcias como se cometer o pecado da Gula e este é o tipo do pecado que se pode cometer sozinha, aliás, deve-se cometer sozinha para não ter que dividir com ninguém! Epa!outro pecado capital: o da avareza, e eu que estudei a vida inteira em colégio de freiras! o que Mestra Maria Alice do Gentil Bittencourt diria lendo isto?...rs..já falei em outra postagem das benesses do açaí, além de maravilhoso, ele tem dezenas de propriedades fantásticas, inclusive é antioxidante. Ele só tem um defeito que ,confesso, tento não pensar: é calórico. Então eu me engano pensando numa reportagem que eu li dizendo que a gente engorda É SE NÃO COMER o que desejamos..rs..aí peço a benção de Nsa. Senhora de Nazaré e tomo cheia de fé nesta teoria, o meu meio litro de açaí com farinha de tapioca, que meus amigos cariocas não conhecem ,por isto coloquei a foto,ou farinha d'agua ,acompanhada de um camaraõzinho bem salgado, ou de um charque grelhado ou de um pirarucú bem tostadinho como faz a Vera (minha amiga jornalista). Ah meu Deus, perdão, mas até a cor do açaí já foi cantada em versos pelo Djavan e hoje já virou mania nacional. Imaginem se o resto do país tivesse o privilégio que nós temos na Amazônia de tomar o açaí fresquinho? aí sim a Igreja teria que abolir a Gula da lista dos pecados capitais. E agora, com licença, porque o açaí causa uma lassidão que só um bom sono resolve...e não me invejem porque também é pecado hein!

Beka- 18/02/49=16/11/81




Vou tentar ter um distanciamento afetivo para falar do homem e artista "BEKA",logo acima mostro que nao conseguirei muito, pois já começo com o chorinho que ele compôs para mim e do qual muito me orgulho! Pois é, hoje faz 29 anos que ele morreu e durante todos estes anos, venho tentando preservar um pouco de sua obra musical,algumas vezes exibidas publicamente como no Cd 'Choro Paraense' editado pela Secretaria de Cultura do Pará onde foi gravado o meu chorinho Fá-Fátima, outra com um belo painel no Mangal das Garças com parte da letra de uma de suas mais representativas músicas: Mestre Calafate. Beka, foi um homem preocupado com a preservação do meio ambiente amazônico que ele tanto amava. Há mais de 30 anos, ele já falava em seus versos da cobra cipó que se enrosca amorosamente nas árvores e a defende dos "dentes ruins quer te serrar". Coloquei fotos de Muaná ao lado, porque foi onde passou parte da infancia e amava tudo de lá, usava em sua poesia uma linguagem regional aprendida no Marajó ,com um ritmo de carimbó bem urbano o que resultava numa linda conjugação musical.Cantou muito sua terra, mas era apaixonado também por samba e chorinho ,por isto coloquei à direita algumas das músicas que ele tocava na rua 16 de novembro em memoráveis rodas de samba e onde moravam seus tios queridos Nanete e Orlando e seus primos-irmãos companheiros de música. Ainda bem que parte de sua obra está gravada no Museu da Imagem e do Som de Belém.Teve um belo samba gravado pelo Nazo, que foi marido de sua prima e tinha um conjunto chamado "Suvaco de Cobra", Nazo um dos responsáveis pelo Arraial do Pavulagem, já foi embora e deve estar com o Beka lá em cima trocando figurinhas musicais. Foi com o samba "oh Flor" gravado no CD do Nazo , que o Beka concorreu aqui no Rio de Janeiro à membro da Ala de compositores da Portela, outra de suas paixões.Bom, como diz o poeta Amazônico Thiago de Melo, artistas não morrem , se encantam. Então, tenho a certeza de que ele vive entre Rio e Pará, soprando intenções musicais nos ouvidos de novos bons compositores...beijos Beka e inté uma hora destas...

Darcy Ribeiro-O povo brasileiro




"O primeiro brasileiro consciente de si,foi,talvez ,o mameluco, esse brasilíndio mestiço na carne e no espírito, que não podendo identificar-se com os que foram seus ancestrais americanos- que ele desprezava- e sendo objeto de mofa dos reinóis e dos lusonativos, via-se condenado à pretensão de ser o que nao era nem existia: o brasileiro. " e terminando seu livro em 1995, Darcy profetiza:" estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da terra" / fotos Alice kohler e Herbert marcus.

A Pantera



A Pantera era paraense (por isto coloquei esta bela foto da casa em cima de um igarapé, by Herbert), ela se perdeu da mãe ainda mamando, e eu e Mauro alimentávamos ela de mamadeira, penso que por isso nos elegeu (gato é assim,não ama qq um) como seus preferidos, dormia ou perto dele, ignorando meus outros filhos, ou perto de mim. Viveu durante 17 anos e acompanhou nossas idas e vindas Belém-Rio nas décadas de 80 (quando fui cedida à Tv Educativa) e em 90 quando fui transferida para cá. Nem por isso perdeu o jeitinho dengoso da femea do Pará, quando eu chegava do trabalho ela olhava bem nos meus olhos e se percebia neles qualquer tristeza, vinha carinhosamente mexer em meus cabelos com suas patinhas, se eu viajava, quando chegasse era certo de encontrar alguma planta desenterrada do vaso ou qualquer outra malcriação, era a forma dela protestar! mas, o tempo passa inexoravelmente e passou para ela também. Foi muito triste vê-la definhar e finalmente morrer sendo acalmada e acariciada por mim. Foi enterrada no meio da Mata Atlântica na Floresta da Tijuca pelo Mauro para não se sentir muito distante da região onde nasceu...tomara como nas lendas Amazônicas, tenha se transformado numa linda planta!

Vocabulário Paraense!!



No resto do Brasil 'desmentido' significa esclarecer um fato, ou seja , repor a verdade, por exemplo : vou desmentir as palavras dela! mas, no Pará é diferente, 'desmentir' significa também que uma parte do corpo( dedos, braço, perna,etc) sofreu uma torção e portanto está 'desmentida'. Um amigo paraense que mora no Rio e que costumava jogar voley em uma rede em Copacabana, um dia chegou lá e disse não poder jogar pois estava com o dedo 'desmentido' e ninguém entendeu nada pois membros do corpo nao falam né? portanto não podem mentir..rsrssss..eu de vez em quando falo neste vocabulário para delícia e diversão dos meus amigos.

Maré sêca ,maré alta




A Amazõnia cobiçada e invejada por grande parte dos estrangeiros funciona assim: muita água doce limpa (por enquanto)e muito peixe de variados sabores. Em nosso país continental onde, daqui há menos de 2 meses começa o verão no sul e sudeste e no Norte começará o chamado inverno amazônico e para minha tristeza...rsrsr..nao será a temporada do AÇAÍ especial, que durante as chuvas que vão iniciar começam a se renovar para nova safra! Mas, em compensação será a estação do cupuaçú, bacurí, pupunha e muitas outras frutas não tão conhecidas no resto do Brasil, mas deliciosas como o pequeno taperebá que dá um suco divino...e um sorvete prá lá de gostoso!!um dia desses uma amiga pediu para ver uma foto de cupuaçú ,que aqui no Rio só chega em forma de polpa congelada e no momento eu vou ficar devendo até que um dos meus amigos fotografos de Belém (alô Marcos Quinan, Herbert, Ramid, Leila, Paulo) mande uma foto bem bonita, lamentando a ausência de perfume na internet, pois além de delicioso, o cupuaçú tem uma fragância forte e envolvente, e dá um sabor inigualável à "caipirinha".