Amanhecer em Belém


Sempre que volto de Belém, volto com 'banzo' (a doença da tristeza que os negros aprisionados como escravos, sentiam) meus amigos do Rio já se acostumaram, passo alguns dias de uma
sensação indefinida, uma mistura de saudade e conformação, acredito que deva ser como quem se exila voluntariamente e passa a amar as duas cidades onde tem o coração enraizado. Uma vez fui a um show de Elba Ramalho e a ouvi contar uma história de um de seus músicos que tomei emprestada para mim: um instrumentista da banda, de origem paraibana, vivia choramingando pelos cantos contava ela, com saudades da sua cidade, e, ela um dia perguntou-lhe, mas , fulano porque então tu nao voltas para lá? e ele respondeu cheio da sabedoria popular "não posso , a Paraíba é minha mãe e o Rio é minha mulher, como vou deixar a casa da minha mulher e voltar a morar com minha mãe?" achei genial e passei a compreender melhor meus sentimentos. Mansa e pacientemente fico a esperar que tudo volte a ser como dantes....embora geograficamente distante de muitos 'queridos' mas que os trago impressos no coração!!