Dia Da mulher e Adélia Prado!








No Dia da Mulher, o meu presente: um poema de  Adélia Prado!

Ler Adélia Prado sempre é um prazer. Quando se trata, então, de um diálogo intertextual com Drummond (“Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”) nem se fala... Torna-se um prazer imensurável.

Adélia entrou bem no fundinho na alma  feminina e nos enxergou assim: mulheres desdobráveis !!!! Quem escreveu isto, foi minha prima Maria Célia Jacob e eu com outra liçenca poética (dela e da Adélia Prado) vou usar no meu Blog, bjs....
obs:na foto , eu no colo, minha mãe e a querida Maria!
Com licença poética
                                             Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.